domingo, 16 de setembro de 2018

miragem...



uma miragem branca passa pela mente, e esta vai macerando o esquecimento, mas nas sombras dos teus olhos, consigo ver com os meus, que o amor é mais forte e tenaz que a confusão e o caos que às vezes quer apoderar-se do pensamento e apagar o odor a madressilva, o mel quente e o prazer que ainda nos atravessa...no oásis da memória continuam os sonhos como milagre, numa claridade distinta onde permaneces e eu continuo a amar-te...não fugiram de mim recordações que são astros vermelhos de verão a morar no meu coração.


natália nuno

raminhos de alecrim...



hoje vim apanhar raminhos de alecrim, escolho caprichosamente, como se as minhas mãos fossem de delicado artista, que tanto escrevam e me façam sonhar afagando meu tempo de outono...as águas alegres do rio sorriem para mim, um freixo agita a ramagem com a aragem que vai para sul...um constante silêncio, apenas imterrompido pelo chilrear duma ave na azul lonjura...no destino da tarde trazemos lembranças nostálgicas, no coração e no no pensamento, ecos desprendidos da infância,  a nostalgia se aprofunda e recordamos os poentes dos dias inolvidáveis e inesquecíveis...mas hoje vim apanhar alecrim aos molhos, e por mim passam todos os dias da minha vida, e no meu coração há sempre uma cicatriz pronta a abrir, deixando-me numa saudade que às vezes é de lágrimas, outras de risos. mas sempre me protege do esquecimento...as minhas mãos recordam essa vida distante, de lavar no rio, de escolher os figos na eira, de segurar a cântara à cabeça, erm estes os  afazeres os livros que tanto ansiava e nunca tive... acordar o passado e deixá-lo no meio do silêncio da gente e da natureza, é acender uma chama onde existe força, emoção, e ainda caminho para prosseguir, quase alegre como se tivesse asas para perseguir as palavras que vou plantando neste doce cansaço que me reconcilia com o tempo e com a vida...hoje aproveito a dávida deste aroma do campo para matar a sede dos meus sonhos. E sempre faço a mesma pergunta: quem és? porque continuas aí? E a menina do baloiço me sorri, já começa a esfumar-se o seu rosto, apenas alcanço a sua ténue voz...já é apenas um sonho!
 natalia nuno