segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

era de festa e de amoras...



ri, inventa e chora e o seu olhar a observa por fora, o outono trouxe-lhe castelos por abrir e mais um dia que há-de vir, e um tempo que faz medo, sonhos parados segredo, insónia debruçada na almofada e quase acredita que ainda é amada...é quase flor de inverno, nem feliz, nem infeliz, a sua voz é nevoeiro mas carrega com ela o cheiro da madressilva, da giesta...era de festa e de amoras, há muito tempo há tantas horas, os seus saltos de esperança, a criança que passa a vida a enfeitar, a fazer a trança, a colocar-lhe o laço, e num abraço um adeus que faz doer e uma lágrima a correr...tanta estrada...e ela ainda se julga amada!
natalia nuno

sábado, 24 de fevereiro de 2018

janela aberta ao sol...



às vezes sentimos uma alegria incomunicável, imaginamo-nos numa estrada infinita, rodeada de pequenas coisas que ao olhar nos fazem  felizes... é quase como sonhar e não querer acordar, de repente as palavras tornam-se leves, e uma chuva de finos pensamentos me afastam do
destino que é morrer...então os dias tornam-se vagarosos, e desaparece aquele cansaço habitual tão desmoralizador, diminui a ansiedade, surpreendida sou como uma janela aberta ao sol, sinto-me mais viva, esqueço a angústia vinda do fundo dos tempos e a vida muda de feição... momentos perfeitos estes, onde até o mundo me parece melodioso cheio de movimento, paz e alegria... posso até ouvir o respirar da terra, gosto destas horas caladas, só eu e essa alegria incomunicável, aproveito para relembrar os tempos de menina e a minha terrível imaginação, quando me debruçava no peitoril da janela pequenina, a ouvir p'las manhãs o coaxar das rãs...

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

a alma suspensa...





o tempo passa e já pouco me move, com ele os dias vão e já não é vasta a alegria de viver como outrora, e a vontade de quando em quando anda escondida num esconderijo do meu cérebro, mas há sempre um relógio no meu interior que mansamente me desperta e me vai levando mais um pouco avante e aí me sinto como uma criança silenciosa que só agora acordou e vai acolhendo a vida conforme ela se lhe depara... e lá vou enchendo de palavras o ar que respiro. e ao mesmo tempo recordando a infância, relembrando o anoitecer morno das tardes de fim de verão no lugar onde nasci, as gentes que amei, as flores baloiçando ao vento e o perfume macio vindo dos laranjais, lá fico a sonhar, volto a noivar, sou menina do campo trago a luz da primavera nos olhos, a voz fresca como uma manhã orvalhada, nos cabelos o odor a hortelã e a alma suspensa como se fosse renascer de novo...e, milagrosamente saio do labirinto, acolho a vida sem nevoeiro, ao contrário, prometendo-me sol nos canteiros do meu coração...perco-me no infinito da memória, fecho os olhos e do sonho não pretendo mais acordar e nem o aroma das letras me trará de volta.

natalianuno