sexta-feira, 12 de maio de 2017

remota história...



o silêncio e o esquecimento andam perdidos no tempo,num solitário jardim que é o teu corpo e o meu, terra de aromas que retorna de quando em quando a sentir o alfabeto dos pássaros, o sorriso das flores que chega aos nossos olhos, a luz das estrelas que nos enlaça, e o sol  com lânguidos fulgores  que nos tatua a pele ...passam por nós andorinhas com acordes de violino no ar puro da manhã ainda adormecida, chega em nós o outono com uma pincelada de sol, sorrimos à luz que nos acaricia e às nossas mãos chega o meio da tarde, porque o meio dia já se foi numa rajada de vento, assim se define o que existe entre a felicidade e a tristeza, amo-te mesmo no silêncio e esquecimento, e sonho-te na inteira juventude, sonho este que é remota história, velho sonho de ébrias estrelas que brilharão no adeus à tarde, enquanto os arvoredos levarão nossos medos, deterão o tempo e desdobrarão a presença da cor no nosso amor...serás o último pássaro levado nas ondas do vento até às sombras das ramas, e eu esperarei por ti entre os abetos para ouvir-te dizer, que para sempre me amas...

natalianuno

sexta-feira, 5 de maio de 2017

inventário de esperanças...



abraço a vida, cada dia é uma oferta inesperada que vou transformando numa eterna tarde de domingo à espera do crepúsculo...olho a valsa que as folhas mortas executam sobre a poça d'água e vou decantando recordações enternecedoras, viajo no tempo e a imaginação corre sempre à frente, lavrando versos de risco e de beleza, para que a palavra não morra num tempo ignorado com a presença do silêncio...o coração recolhe um oceano de ternura que vai crescendo das linhas das minhas mãos e fixando-se na textura do papel, arrepia-se minha pele, e eu reescrevo fragmentos da minha vida, sendo eu o primeiro leitor que tudo leio com amor, e me interrogo, valerá a pena partilhar?- quem amará este inventário de esperanças, quem delas desdenhará?- eu habito aqui nas suas margens e vou perdendo o rumo da força, vai-se embaciando o olhar numa despedida silenciosa, numa indiferente solidão, os anos me levam perante todos os olhares e esvaziaram  meus olhos, deixando-os ao relento no entardecer... vão procurando o seu próprio alento.

natalia nuno

ser poeta...



Está dito que não é coisa fácil. Poesia é coisa séria, desista qualquer escritor de a tentar criar, não é por saber muito, nem muito bem saber escrever, poeta pode ser até analfabeto, porque a poesia lhe vem da alma, lhe nasce dum dom que possui
do qual nada o fará desistir por mais que tente. O Poeta se afeiçoa à Poesia, vem-lhe da grandeza dos seus sentimentos, e ainda que os outros lhe apontem defeitos, ele a acha uma obra superior.
Entristece se lhe fecham as portas, se o excluem, alegra-o o poder contribuir, satisfaz-lhe a amorosa admiração dos amigos,
tal como ele com sensibilidade e riqueza de expressão, numa serena ou sobressaltada esperança de dar o seu melhor.
Na Poesia se expressam sentimentos de saudade, de sofrimento, de amor...haverá  porventura mais belo? Nada se lhe pode igualar! A poesia é um impulso que vem da alma,  testemunho de autenticidade.
Eu e a minha mania da prosa...vou tentando, isto que hoje escrevi é o que sinto, os poetas são gente, por outra gente julgados loucos.

natalia nuno

ouvindo Chopin...



Estou nas nuvens ouvindo Chopin, subo montanhas, distancio-me do Mundo, esqueço as encruzilhadas da vida, e fico grata a Deus, por me dar a opção de ficar por lá até querer, quem sabe esqueça o caminho de regresso...sento-me numa nuvem branca, e voltarei em Maio, num dia lindo, haverá lilases a rebentar, e eu, irei viver a vida até ás minhas últimas forças.Os meus olhos verdes herdados, olharão uma e outra vez o mar, também o sol até desaparecer no horizonte, assim amansarei a saudade, e aligeirarei a minha ânsia.

natalia nuno

lembranças...



Hoje lembrei... nasci num dia em que o rio galgou as margens e alagou as hortas,  soltou-se livre.
Tal como ele, eu, brava nascia, não sorri nem pestanejei, gritei, trazia comigo a impetuosidade e a curiosidade p'lo Mundo onde acabava de chegar.
Dentro de mim ainda essa criança pequena, num sopro de inspiração, lá volto à infância, onde a vida tinha outro sabor, e é um amargo doce que a recordação me provoca. Para além da criança, lembro a adolescente que conservo com comovido afecto, feliz, descontraída, assim a recordo.

Orgulho-me da aldeia, amo os que lembro com saudade, pobres materialmente. mas ricos interiormente, foram eles que deram sentido e esperança ao meu desabrochar.
Hoje lembrei também dos rapazes de mãos rudes e gestos desajeitados e dos bailes onde tanto me divertia. Há uma história que conto a mim mesma diáriamente que jorra desta fonte que é o meu passado.
Passeio pelo Mundo onde me deixo enfeitiçar por belos recantos, mas é sempre a volta à aldeia que profundamente mais me absorve, onde a memória fica viva e clara.
A aldeia e eu seduzimo-nos mútuamente, há recordações que acarinho e evoco nas minhas horas silenciosas e sombrias.
E assim me vou distanciando, sentindo-me um ponto ínfimo no final do caminho.
Meu corpo já não me pertence, devora-me o tempo, mas a Poesia reconforta-me um pouco, e a memória é guardiã do arquivo das minhas lembranças.
Repito para mim:
«Tu és ainda muito nova»
Tudo não passa de ilusão
A imagem que vês no espelho
pedindo socorro não és tu,
essa não!
Carrega aos ombros aquela que só tu vês
Tu és, a que vive dentro da tua memória
Essa é que és!
A que sonha que há-de ir mais além
Já sem nada de seu
Há-de sorrir como ninguém
Como águia, voar p'lo céu.
Conquistar a Vida
Pois nasceu para voar
Olhos bem despertos
Ouvidos bem abertos
E de emoção gritar.
Que és eternamente jovem!
Sofres  da passividade
de ver o tempo a passar
Mas na saudade
Sabes o coração reconfortar.

natalia nuno
rosafogo

capricho




Ontem não vimos o sol, choveu sem violência, e ficámo-nos a olhar o rio, esse rio que já é oceano, surgiram mais umas rugas nas têmporas, enquanto as nuvens se afogavam na luz morna da tarde. A noite é agora carvão e o horizonte já abraça o crepúsculo, e eu recordo o dia de ontem, pois a amizade me arrancou um sorriso.
Amanhã uma luz macia trará um novo dia, e eu serei o que sou por quanto tempo DEUS quiser, me enviará um sopro doce do vento para me adoçar o peito, que pende um pouco para a tristeza.

A vida vai-se prolongando
e botões de lírio (sonhos) vão despontando.


natalia nuno