sábado, 21 de outubro de 2017

pedaços soltos...



deixa-me o sabor da tua boca, acaricia meu rosto fatigado na tarde lenta em que as minhas mãos tecem palavras de loucura, como se rezassem!...olha-me com espanto, como se eu continuasse a ser o teu encanto, nua ou vestida percorre a minha pele, poro a poro, afunda-me no teu peito com aquele jeito, com que eu sempre coro...não me deixes neste silêncio estranho, ou no vendaval onde me dobro para não quebrar, o tempo cruzou-se comigo nestas longas caminhadas pejadas de partidas e chegadas, deixou sinais que não posso esquecer e restos de esperanças que quero reter...há lembranças que se vão desvanecendo tal como a tarde, percorre-me o sonho na claridade do teu olhar, onde a felicidade e a ternura são canção de embalar...os meus dedos de menina escrevem umas linhas de amor, e nas tuas mãos, esconde-se a lua vestida a rigor...

natalianuno

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

outro rosto...



os meus pensamentos desviam-se, insulto o sol que me queima o corpo e me incendeia a alma,  volta, traz contigo os sonhos que sonhámos e as conversas esquecidas para que não se percam, não sei onde estás, só sei que a inquietação me atravessa o coração e na boca trago o sabor amargo da tua ausência, logo hoje que a lua beija as varandas antigas e os meus dedos tentam arrancar-me as veias, os meus pulsos mal se aguentando, ouço-me num longo silêncio e assim atravesso a vida, meus passos já conhecem o caminho, talvez não vejas, talvez não sintas mas as rugas detêm-se ao redor dos meus olhos, e há dias em que a saudade me passa ao lado...

natalianuno

réstia de doçura...



bem vindo o azul da noite sobre o rosto verde da folhagem, logo é a hora em que os corpos se enrolam, as bocas se juntam, famintamente se amam... a janela continua aberta, recebendo o vento amável, só ele testemunha o absoluto deleite do amor entre quatro paredes... vai implorando morrer entre os amantes...encostada a uma esquina a lua traja de prata, alheia à janela aberta, tocando com os lábios a terra a seus pés e, deslumbrada, olha cada palavra que o poeta frustrado, coloca sobre o papel branco da côr das flores da magnólia, e deixa num verso uma réstia de doçura..

natalianuno

outono na alma...



já se perdem minhas folhas neste outono tardio assoladas pelo vento da saudade... hoje ouvi as harpas do canavial,e recuperei o sorriso, subitamente vieram-me as lembranças às águas da memória, e de lembrança em lembrança voei caindo no silêncio...sento-me no chão, sou agora um vaso quase vazio onde repousam flores sem vida... e a borboleta que voeja na desordem da minha folhagem caída...pergunta-me: que fizeste da vida? fico-me silenciosa, e olho a minha triste caligrafia, as palavras caem da boca como frutos maduros, e as sílabas já não querem mais voar...
natalia nuno

sábado, 14 de outubro de 2017

desânimo...



às vezes sinto-me só, num mundo estranho, de esperanças poucas, e sentindo que nada posso mudar avanço nas horas sem remos, debaixo de calor, onde me basta saber-me viva...perco até as palavras e aguardo pela paz em mim...então faz-se aurora e eu sou a viagem e sigo minha trajectória...
natalia nuno

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

rio da vida...



por te sentir e amar, sinto angústia por te perder, é dado amar sempre mais, não importa que um de nós adormeça primeiro, quem ficar agasalhará no peito a primavera deste amor...como se nada houvesse mudado...nada separa o que não pode separar-se...numa pequena barca atravessamos o rio, desatentos, não demos pelo tempo que caminhou ao nosso lado, breve, como a sombra duma ave que passa...
natalia nuno

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

saudade ...



o outono abrigou-se...desnorteado, à espera que as abelhas fiquem sonolentas e o sol ajoelhe, espalho palavras na eira dos sentidos e grito aos pássaros que as deixem amadurecer...não, não tomei outro caminho, nem outro barco nem outro rio, sigo a voz que talha o meu silêncio na calada da noite...reconheço ainda as papoilas que habitam meus dedos... são quase tudo que carrego da madrugada, que já vai longe...

natalia nuno

à procura....



ando à procura de sonhos onde possa abrir caminhos aos salpicos de sol, aos sorrisos vestidos de branco, à imagem escondida no recanto da memória, aos fios brancos de cabelo da minha fisionomia, e à minha velha ânsia que continua a debater-se...antes que tudo me sufoque...
natalia nuno

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

rosto que não encontro...



rastejam sóis em busca de poentes...enquanto recolho o cheiro das maresias pelos atalhos do outono, há um rosto que não encontro, escapou-se para longe de mim, ele que era a minha blusa de domingo...o tempo avaro o pegou! agora perdida nas horas onde tu és ainda, morre-me o tempo de ti, mas o sol não afrouxará apesar das sombras...hoje nem os pássaros saudaram o nascer do dia, e no meu coração a saudade fez ninho de mil maneiras... e trouxe até mim a nostalgia! resta o cheiro das amoras, e a tristeza de ser cântaro sem água, tocou-me o outono e fez de mim uma imagem desfazada...

natalia nuno

desabafos...



seus passos foram feitos para andar, não para se arrastar, às vezes formula frases indistintas  em contemplação ao que a vida lhe oferece, e no seu interior há sempre uma força que a anima...uma ilusão persistente que a persegue e que faz com que esqueça os estragos na alma que a vida conseguiu retirando-lhe a paz aquietadora do coração...nas horas de silêncio que passam por ela, reflecte sobre como rapidamente passou a juventude também a chegada da velhice e, como seu rosto morreu escondendo a alegria num sorrir mudo, onde o silêncio toma conta de tudo...ouve a voz do seu desassossego, já não vai haver um amanhã diferente, é agora como carta amarrotada deitada ao chão da indiferença, tudo é diferente sim daquele tempo de menina, o que sente é demasiado forte e doloroso e chama-se saudade...esboçada aguarela de rosto macilento, triste como a noite, triste tela sem vida nem florescimento...

natalianuno