olha o céu de nuvens despido, seus pensamentos ledos e tristes vagueiam perdidos, caminha numa procissão de passos, traz búzios nas mãos serenas, nos olhos enxutos gaivotas de esperança, mas no coração uma sede de abraços...na mente carrega andorinhas de negro, cansada já vem de longe e à vida se faz, e a noite lhe traz sempre um novo sonho... ouve o beber das palavras pela folha de papel e é como se escutasse Deus na sua escrita, tece e destece a realidade, e amanhece pensando na idade que é quase noite, as palavras vão golpeando o seu céu e cravam abismos na alma sem piedade...mas ela sempre renasce e resiste esperando de novo alto sol na noite que carrega... o vento refresca-lhe as pupilas e canta no seu coração em plenitude, trazendo-lhe as sílabas precisas que pousam nos poemas... como um abrir de portas a uma vida que sempre se renova...no entanto algo mudou, não será a mesma que foi, e essa estranheza lhe dói.
natalia nuno