quinta-feira, 21 de setembro de 2017

entre a noite e a insónia...



olha de novo o céu de nuvens cinzentas, seus pensamentos ledos e tristes vagueiam perdidos, a ternura que a percorre é como a frescura da manhã, caminha solitária e seus passos são lentos como o gotejar da mais íntima fonte, nos olhos molhados traz a saudade, mas no coração, sempre a mesma sede de abraços...seu sorriso de  murta e jasmim vai-se abrindo almejando seu desejo de horizontes, já foi esbelta e harmoniosa e hoje se surpreende, o tempo a deixou de fulguração despida, cansada, mas grata à vida por a deixar envelhecer aguarda a noite que lhe traz sempre um sigiloso fogo d'alguma felicidade... ouve de novo o beber das palavras pela folha de papel, e uma luz fugidia desliza sobre o tecto dos seus pensamentos, aproxima-se e evade-se  é a recordação a querer fugir-lhe, o peito aperta-se e ela permanece imóvel no silêncio de destroçados muros, permanece na espera que se abram clareiras e possa ser de novo flor imprevisível nascida das águas, seja sede, seja fragrância e de novo fogo e ternura para que possa inventar sonhos e ter tempo ainda de felicidade...quererá deixar pegadas na areia e se o vento as arrasar, sentir-se-à cada vez mais indefesa,  apagar-se-à sobre si mesma, será o final sulcado pela morte.

natalianuno

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

a chegada do outono...


o outono já se faz presente, na sua escura fragrância, é um jardim na penumbra...a sua luz é sensual, passa o seu tempo numa quieta agonia, é tempo de inacabados sentimentos, vai-nos desfigurando as feições e despindo a vida em silêncio, fala-nos com voz melancólica, sutura-nos as feridas, para que nunca mais voltem e desfralda um arco-íris em nós para que a memória não se esfume, quer que perpectuemos o valor da vida para que não se apaguem recordações, e nem sorrisos que arrancamos aos sonhos... tranquilo amigo é este tempo de outono...que se importa que continuemos cuidando de nós, mesmo no frio das horas..olho o horizonte e procuro por aquele fogo feliz, e já não sinto e não sei por quanto tempo seguirei neste mundo a que pertenço, as ruas são incertas e fugidias e as sombras aumentam, sinto o mundo a desabar fico sentida e muda de olhar quebrado, estremecem os rios do meu corpo e o vento adormece no meu peito...

natalianuno

sábado, 16 de setembro de 2017

viajantes da memória




que difíceis se fazem as palavras quando queremos falar daqueles dias em que o sol girava nas nossas mãos, e a vida tinha um som distinto e tomava seu rumo dando-nos felicidade, deixou-nos um sabor nostálgico, horas talvez mais solitárias, mas ainda assim o sorriso sempre aflora e a saudade que abraçamos nos traz bem estar... hoje estamos mais alheios ao rumor da vida, é maior o silêncio que nos toca...mas ainda entrelaçamos as mãos com a emoção da juventude, enquanto raios de luz se dissipam no nosso horizonte...somos viajantes da memória, lembrando encontros furtivos, cartas d'amor e sonhos loucos vividos por nós nesse Setembro distante, quando as primeiras folhas caindo ao chão falavam carinhosamente lembrando-nos que tudo acaba e como tal vivêssemos os momentos de poesia, saboreando a chama para não deixar que se apagasse...hoje gasto a caneta e as palavras a recordar e fico assim enquanto a morte não chegar....

natalianuno

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

fogo da ternura...



a carência de ti não me abandona, invento tempo de felicidade... meus olhos abertos pelo fogo da ternura voltam a embebedar-se de alegria num beber lento e doce, e a memória volta àquele momento distante quando comecei a desejar-te... e penetrou no vale agreste do meu coração a luz mágica do amor, cujo aroma encantador ainda conservo na memória, o teu corpo, o teu perfume, o aproximar dos teus lábios, até do mais pequeno gesto eu guardo a recordação...caminho imenso já percorrido, os momentos mais doces são ainda testemunhos dum amor que permanece em mim, fecho os olhos e vejo uma imensidade de imagens que me dizem mais que mil palavras e são minha recordação constante...o sonho me harmoniza a vida!... o tempo ficou para trás, às vezes o peito se enche de frio dum pavor desconhecido, como se já fossemos sombras ou cinzas, vamos avançando às cegas, até que um dia ficaremos com os pensamentos difusos e adormecidos como crianças...

natalianuno