sábado, 12 de novembro de 2016

criatura do amor...



a cada momento, meu pensamento caminha à procura de mim, quem fui, quem continuo a ser neste meu amadurecido viver rumo a um horizonte de doçura, rumo à felicidade, ao sonho ou à pura ilusão... à saudade! -  dou conta que o silêncio se faz fundo na minha alma, e na noite escura medito, enquanto as horas se extinguem e apenas sei que nada sei, que não me reconheço, que sou alguém que muito bem poderia ter sido diferente, mas não posso fugir, aqui fico presa aos espelhos...então, como um rio doce que corre ao mar fico a murmurar, fecho os olhos que nem sequer sabem porque choram para meditar,  alerta ficam os ouvidos para ouvir o eco de mim perdida, ponho-me de costas para a negação e apenas sigo o pulsar do coração, inverto o caminhar e me encontro na minha pequenez, onde as rosas se abrem numa fascinação que me entontece, e eu espero que tudo recomece , o sonho e a ilusão, já ouço o rumor dos teus passos, vejo-te ao longe estendendo-me de novo os braços, neles me ergo viva...criatura do amor!

natalia nuno
homenagem a
Florência de Jesus

desabafo...



Aqui já pouco ou nada acontece, mas crescem-me os pensamentos e corre-me o sangue nas veias, e o meu corpo vive e morre no tormento das sombras, porém, retenho um pouco de felicidade enquanto a vida chama por mim ainda, deixo-me criança perdida chilreando como pássaro solto e deixo que o vento ecoe o meu nome num comprido corredor, numa sucessão de dias, mesmo que a morte espreite...meu lugar é entre os vivos e eu quero a quietude no olhar e o fogo de quem consegue ainda ser feliz... feliz com o tacto das flores, com o riso das águas, com o vôo dos pássaros, e retirar prazer das lembranças, ainda que para mais nada seja que sobreviver à solidão...

natalia nuno

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

no calor da chama



Atravessei ignotos lugares da terra, perdi-me na surpresa , fui andorinha, neste mundo de ventos e beleza...no silêncio das montanhas, nos rumores das cidades, na voz dos mares, no pranto dos glaciares, nas flores cercando-me, nos rios que correram milénios o mesmo caminho, e eu esvoacei fresca na brisa do sonho, numa esperança quase impossível, pois já sou prisioneira do tempo...ele que é inimigo de todo o ser vivente... na caminhada, os meus olhos deixam a penumbra do vazio, enchem-se de luz cintilante como o mar de verão, e nos meus lábios há mel arrancado à dulcíssima beleza que encontro mundo fora, na embriaguez da minha sede de continuar a caminhar, como se nunca fosse terminar o calor desta chama...o meu peito fica verde como frondosa ramagem, e as sombras que me inquietam deixam de me torturar, retiro da vida o espelho que me olha e me acusa e lhe grito: «tu és o meu pior inimigo...» e num misto de tristeza e alegria, surge-me um jardim de memórias que me trazem de volta a vida que encontrei e a que podia ter tido.

natalia nuno

terça-feira, 1 de novembro de 2016

também as rosas fenecem...





Também as rosas fenecem na sombra dum instante, num aprisionado grito... também eu sinto o vazio que se afirma como um negro rasgão e, já só sou o que não sou, continuo insistindo, agarrada à vida, apesar da máscara que os anos gravaram e me cortaram o vôo, só o vento me ouve quando o sonho anda baldio...pálidas são as defesas do que resta, ficaram os risos feridos e as forças humilhadas, meus dedos se instalam nos recantos do poema e meu olhar cai sobre o horizonte em plena abulia...
natalia nuno

domingo, 9 de outubro de 2016

sombras...



cativa no tempo, enterrada na melancolia permaneço silenciosa, entre o labirinto que vai da distância percorrida ao presente, chegada aqui, nenhum sonho se anunciou, o pensamento abriu e fechou, ficou-se pelas sombras, as palavras batem na garganta, mas ficam-se pela ficção dum monólogo, que só as vozes das árvores conseguem julgar...tenso é o ar da espera!
natalia nuno

homehagem a
Florência de Jesus

atrás do sonho...



atrás duma porta onde já não mora ninguém há ainda um persistente sonho que se esfuma... não me atrevo a abri-la, ouve-se ainda o abrir dos ferrolhos e o coração bate demasiado depressa, o sol escoa-se atrás dos ramos que frondosos se inclinam para o chão para logo se apagarem nas próprias sombras...sob um manto de estrelas lá continua a menina no baloiço como se nunca cessasse de baloiçar, as amendoeiras ali por perto floriram, do mais nada resta, nem auroras nem ocasos, e o que eu mais amava silenciou...ali onde bebia o sol e havia cânticos no ar, e os aromas gritavam, existe a buganvília talhando uma tristeza onde a minha alma navega...cada folha, cada caule, são carícias que me acolhem.

natalianuno

segurando o vôo...




beija-lhe o rosto o último sorriso, enquanto se esfia a vida em murmúrios e gestos lentos, o coração um deserto, é quase uma estrela que se apaga no céu, a alma desejosa de soltar-se, fugindo para o recanto mais subtil da melancolia unindo-se à alma das coisas... como se o sonho ainda lhe pusesse estrelas nos olhos, senta-se à beira do caminho, respira o ar das resinas, ouve o rumor do vento nas giestas, observa a paixão das abelhas nas colmeias, o sol vai desaparecendo na ladeira, já a lua traz a noite a nostalgia dela se abeira, tudo tão dentro dos seus olhos a lembrá-la de quanto amou...e assim vai segurando o vôo para que não despenhe o corpo...ou se extravie a memória.

natalia nuno
em homenagem 
a Florência de Jesus


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

promessas...




Será luz a nova flor que se abre? Permanece o silêncio... talvez só uma comovida flor que o orvalho resolveu golpear, num prazer desperto de levar para longe a semente, com a promessa de fazer tremer a gota de água, que a fará germinar...se te amo, é porque deixas o teu perfume a cerejas silvestres! Dá-me a tua promessa, acende meu arco-íris de prazer antes que enferruje a minha esperança e as palavras me resvalem na garganta...como um tíbio raio de sol onde a claridade já estremece.

natalia nuno

sábado, 1 de outubro de 2016

outono de recordações...



é o passado que se desenha na aura deste pensamento em vôo nas minhas mãos... enquanto os meus olhos riem, treme a água no açude e eu criança, com um tremor de asas no sangue...no reino da minha infância, o silêncio e o vento rondando nas ramas, e o chilreio lânguido do pássaro, ignoro quem voa melhor se ele, se eu... juntos pelo acaso deste sonho meu... e o clamor da minha existência vai-se apagando num outono de recordações, a idade avança sob a oculta hipocrisia de que amanhã será melhor, enquanto vou caindo como folha moribunda numa tarde declinante de inverno hostil...porque há muito foi primavera resplandecente, em plenitude... esse tempo que recordo amiúde, como um sonho perdido para sempre.

natalia nuno

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

perdida...



de repente há um aroma que me recorda o que ficou para trás, e as minhas palavras são as sombras onde me encontro perdida, lá onde a dor é mais forte e me deixa sem norte, sou agora a velhice e ao mesmo tempo a juventude, grito a dor num poema invisível que declamo amiúde, e num golpe de garra saio do silêncio dos versos e continuo a pulsar com uma força que não aceita derrube...e o amor é um agasalho que me cobre e me põe a sonhar...caio assim neste abandono de doçura vestida, adormecida na minha derradeira saudade.

natalia nuno

sábado, 24 de setembro de 2016

ré desta passagem...



deslizo o ferrolho dos sonhos, deixo as portas entreabertas e sigo o destino dos meus passos, levo o olhar enxuto e no coração a sede dos abraços...fico imune à sentença dos anos, podem vir luas e marés e enfeitiçados oceanos, que não haverá dor que me quebrante nem pena que os meus olhos apague, agarro o sonho e jogo o jogo da vida um pouco à sorte, vencendo a morte e as horas de incerteza, e é assim, sonhando, que o tempo sepulto para que pare o corroer dos meus traços, que deixe de golpear-me a pele, não quero sentir o seu peso a rodear-me, a calar-me a alegria, a consumir-me numa cinzenta melancolia, tornando minha existência enegrecida...quero esquecer o silvo do seu rancor...busco a vida e suplico-lhe amor...

natalia nuno
em homenagem
 Florência de Jesus

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

miragem...



uma miragem branca passa pela mente, e esta vai macerando o esquecimento, mas nas sombras dos teus olhos, consigo ver com os meus, que o amor é mais forte e tenaz que a confusão e o caos que às vezes quer apoderar-se do pensamento e apagar o odor a madressilva, o mel quente e o prazer que ainda nos atravessa...no oásis da memória continuam os sonhos como milagre, numa claridade distinta onde permaneces e eu continuo a amar-te...não fugiram de mim recordações que são astros vermelhos de verão a morar no meu coração.

natalia nuno

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

abandonos...



um mundo dentro doutro mundo, onde há felicidade e onde esta pode ser fugitiva, é sempre um íntimo mistério, sonhos sem limites ou limitados, memórias atadas ou soltas nos corpos incendiados de amor, quando o tempo não existia...atónitos meus olhos as fitam e a minha mente cria história feita d' amor e nostalgia nas palavras sempre com um júbilo novo...

natalia nuno

abandonos...



ao olhar estas janelas sinto que há nelas um resto de voz apagada,uma angústia, um subtil desassossego, uma atitude de espera, um ar perdido, e me envolvo de tal forma que invento histórias de silêncio, que são no fundo o que elas serão sempre...silêncio, gemido, mistério, onde a vida já pouco ou mesmo nada existe...e os dias são intermináveis com o torpor de quem continua esperando...

natália nuno

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

dar sentido à vida...



continuo a minha marcha de silêncio, reside em cada canto da minha mente o caminho voluntarioso até que termine a minha missão...às vezes as estrelas brilham sob meus pés e é como se pisasse o firmamento e me deixasse transportar para um mundo de sonho...guardo o brilho da lua dentro de mim, olho da minha solidão o tempo a passar e como uma parede coberta de heras me fica o coração. caio no açoite da noite que me leva o sono, mas eu sonho...sonho acordada com a firmeza da juventude não permitindo que o coração esfrie...levo comigo o calor da esperança, nos meus sonhos há sempre uma flor mágica de cor vermelha apresentando um ar sobrenatural, que me mostra a vida e me faz renascer a cada dia... é a esperança, que me faz sonhar até a aurora beijar o poente, e a reencontrar-me profundamente,,,

natalia nuno

segunda-feira, 4 de julho de 2016

o cisne da memória...



o sorriso voltou-lhe aos lábios e depressa se desvaneceu, dissimulou os pensamentos, porém, vai assimilando as voltas que a vida deu... embrenhada na natureza, senta-se numa pedra frente ao rio com a pureza própria duma criança, e vai pacificando as emoções até aquietar o coração...da solidão nasce o silêncio, e como que por magia volta a sonhar e a manter viva a esperança, tem pensamentos líricos que viajam na corrente, são agora os olhos que sorriem e volta a sentir-se gente...cada paisagem, cada rosto, é alento do seu dia, e no rasto do silêncio vai crescendo um lago de palavras...onde um cisne branco se espaneja na memória deixando promessas de criar do nada poemas de paixão, procura nos caminhos do vento ou nas paredes prateadas da lua a inspiração...sonha em cada linha, e caminha indiferente à solidão.

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus

sexta-feira, 1 de julho de 2016

escutando os meus passos...



levava laranjas nas mãos, os sóis giravam à sua volta e perguntavam-lhe: quem és tu?
- sou apenas um sonho, um leve sonho solto no esplendor da manhã, ando pela casa onde nasci, ouço um rumor de pétalas caídas das ramagens, sonâmbulas, tristes pelo chão, também sussurros de quem adormeceu para sempre, mas sua alma navega ainda por cá junto à luz sombria dos loureiros...com o vôo livre deixo-me ir até onde mora a brisa, fico despida e inconsciente entre as madressilvas, alfazemas, e a ternura das giestas... ouço ao longe os trinados de pássaros anónimos que podem ser cotovias, rouxinóis pardais ou outros mais, e eu escuto-os no espaço azul da minha memória onde se enraiza o resplendor da esperança que ainda me cabe...é árida a realidade por isso sou apenas sonho, sonho e saudade e tudo que vivi e amei, solto agora com palavras velhas estas memórias atadas, enquanto não surge o caos e a confusão e venha calar a minha mão.... 

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus

terça-feira, 21 de junho de 2016

sonho que se esfuma...

uma fria labareda ía morrendo e ela de janela aberta de par em par, olhava o espelho e encontrava a resposta que tanto queria ignorar, o rosto persistia mas sem vida... ferida, cresciam-lhe no olhar lágrimas esparramando-se num longo pranto...o tempo sentenciando sem dar trégua, deixava-lhe mais uma ruga taciturna e revelava-lhe um rosto que não conhecia. alucinada, seu coração ficava uma pedra branda que chorava por dentro, a sua face ali retida era como um enigma, uma sombra, e nunca a sua inteiramente...recordou-se jovem, com pena nada mais quis ver nem saber, espreitou o mundo, desdobrou um sorriso triste e estava ali, pronta a quebrar o vidro cego, era ela afinal... como um sonho que se esfuma, na mesma janela com cortina urdindo sonhos, os mesmos que trazia lá detrás de quando era menina...

natalia nuno
homenagem a Florência de Jesus

segunda-feira, 20 de junho de 2016

bagagem...



carrego minha bagagem com um sentimento de esperança, sinto a avidez do tempo a fragilizar-me a memória,  os dias parecem nascer sem horizontes... e um punhado de frio percorre-me o corpo que preso à indiferença já nada sente...os anos caem sombrios e a fiel solidão parece ser definitiva, no entanto sempre surge aquele velho desejo de recomeçar, esqueço o frio e a solidão, porque há sempre a tal esperança no amanhã... é um desassossego este peito frio pra quem ama a vida!
- visto o meu traje de menina e emerjo com firmeza, continuo, deixo a incerteza, nego a solidão, vou sonhando de novo entre os pinheiros do outono e o sonho dá-me a mão como se sempre me esperasse...  

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus

sábado, 18 de junho de 2016

fragmentos da viagem...



fico à espera que o vento me encha as velas de coragem, que retire as nuvens da tempestade, me deixe a mente tranquila e o coração corajoso, e no meu âmago uma fonte de doçura para poder navegar no meu quotidiano em paz...neste rio infinito que um dia me canta uma canção melodiosa e noutro me deixa a alma inquieta,rendida e numa situação dolorosa...fico a flutuar à tona, e quase parece que a vida me abandona... marés infinitas e eu presa nas ondas deste tempo morto, onde só o vento rumoreja e um pássaro canta uma estranha canção. triste e melancólica na minha mente atulhada de pensamentos...embrenhada, esqueço a sordidez do mundo e, amanhã voltarei a renascer das cinzas...

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus

sexta-feira, 17 de junho de 2016

a minha sombra...



as manhãs sabem sempre a fruta e a vida vai fluindo, o dia me acolhe logo que o sol paralisa em frente à minha janela, enquanto isso, vou queimando todos os meus tempos a procurar a força que ainda me é precisa....para ser feliz recordo, dirijo o pensamento para novas distâncias para lá do horizonte,  sonho como se fosse audaz primavera o tempo q' inda me resta...
levo os passos encaminhados e palavras que me bastam mesmo à medida do meu caminho, levo também tudo o que sonhei, e engendro sonhos futuros lá pelos riachos da tarde... não levo pressa, mas, o meu olhar voa com a audácia dum relâmpago antes que o tempo o feche de vez e tenha de chorar a vida...a noite não tarda envolta num silêncio macio, as quimeras fogem-me envergonhadas  a vida fica submersa na solidão...e o tempo range detido nos meus olhos...

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus

sexta-feira, 3 de junho de 2016

no outro dos meus lados...



fui vencendo o caminho com errante ligeireza, presenciei horizontes calmos  horizontes irados e hoje, entreabrindo meus olhos molhados por horas de incerteza, os sentidos retornam explodindo, ainda há flores de júbilo no meu coração que obstinadamente se recusam a morrer, brindam à vida e bebem comigo da mesma taça do viver... este momento de loucura que por mim passa... como que amanhecida, meus pensamentos iniciam uma nova dança, sinto-os a balancear como a querer libertar-se, surgem de longe e elevam-se tão perto que volto a ser criança,  num silêncio macio escuto as águas do rio, e eu sou apenas esse instante...criança em liberdade, não sei quantos anos tive, sei que meu coração ainda vive...da saudade.

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus

quinta-feira, 2 de junho de 2016

meu último sonho...



com o passar de folha, apagou-se metade do meu sonho, já a memória se esquece da antiga disciplina, comovidas as flores na jarra, afirmam que estou delirando... e deixam um aroma fresco ao alvor, em minha almofada... a memória é pois um cântaro cheio de saudade, resgato o sonho, e lá volta a brisa com a claridade da infância...nessa hora sonho com o tanger do sino, cujo som mágico consigo ainda recordar, e o rio, éden da minha infância, águas cristalinas espelham o céu e nas margens crescem flores como meninas joviais...meu sonho continua à sorte, e vai jogando o jogo da vida e da morte...o tempo cega-me, mas as estrelas avivam-me os sentidos e a lua escuta o meu coração, solidária dá-me a mão e o sonho continua...

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus

terça-feira, 24 de maio de 2016

no silêncio das pedras....



no tempo em que o tempo passava mais devagar...tempo que deixava viver, esperar, sonhar...ardiloso, manhoso, a quem dávamos pouca importância, era apenas um intruso que servia para tudo ou para nada, lá, no tempo onde existíamos sem datas, porque nelas não pensávamos... nem necessitávamos de respostas, onde era inesgotável a alegria, quando o corpo era novo e nenhuma sombra crescia, tudo era linguagem do amor, o coração pulsava... hoje, apenas se recorda!...e mais uma ruga se inscreve no rosto desenhando o cansaço e o desalento que fatalmente vem interromper o vôo, trazendo temores e ansiedades, saudades, deixando a luz do olhar sem memória pouco a pouco...tudo não passou duma quimera, dum passar de anos que marcaram a pele,  e encheram de abulia os dias, e assim a vida passa a ser como um dia condenado a ser noite...já não se colhem mais certezas nem sonhos, apenas nos olhamos velhos e recordamos a criança da nossa idade sem tempo...

Florência de Jesus

quarta-feira, 18 de maio de 2016

como rio feito gente...



deito-me ao lado das flores, oiço os suspiros do sol que amadurecem os lírios e despertam a terra, encerra-se mais uma noite de sombras aonde a saudade e eu recordamos amores e tecemos estrelas, vieram giestas a correr pegar-nos na mão, quebrar a nossa solidão, ouvimos o riso das amoras no silvado, e o coração ficou quebrado, sem tecto nem chão, sem andorinhas no telhado...só o xaile da mãe pra me enrolar, na memória d'outro madrugar e afagos de ternura, onde reverdece a doçura... há flores em silêncio na moldura do sol do meio dia, os junquilhos vão abrindo com alegria e na teia das horas há chilreios abertos sobre o jardim e saudade futura onde a ausência será só de mim...morrerei inteiramente como rio feito gente que não volta mais à nascente...

Florência de Jesus

a minha barca...





vesti um vestido de espuma, viajei num mar de sonho e vento, emigrei para lá da bruma, mareou meu pensamento...assim minha alma navega indo ao sabor das marés, enquanto a realidade se nega a dar-me asas aos pés...serenei tempestades de mim, expulsei raios e trovões, ainda assim restam-me as ilusões, e alguma angústia, a minha barca traz o cansaço duma vida inteira, num mar nem sempre calmo, numa viagem que desafia a eternidade...visto-me agora de nevoeiro, de janeiro a janeiro, para embalar minha dor e minha saudade, a barca chega enfim ao cais, com uma gaivota na proa, a cantar poesia...e arrombar-me o coração...

Florência de Jesus


domingo, 24 de abril de 2016

sonhos de água...



cai a noite  no duro silêncio, e ela como uma flor que secou... esforça-se por chegar à Primavera, lá onde a noite se esconde e o dia aclara,  estrelas vêm agora descendo, trazendo-lhe a luz prateada que a faz viajar até outras idades, quando as papoilas eram mais vermelhas  os pássaros  pousavam-lhe no ombro e o rio chamava por ela...inventava milagres, agora, traz com ela saudades, seu pensamento é cais onde os suspiros aportam, no ventre da sua aldeia deixou o coração no silêncio dos peixes do rio, e suspiros são estrelas cadentes até hoje a pairar no céu azul da terra que não esquece, como se asas tivessem seus pensamentos voejam por entre os laranjais de flor branca e odorosa, adormece sempre às portas da manhã colhendo figos pingo-mel, e a ouvir os galos quando a madrugada já se avizinha... sonhos de água são miragem, ao longe a imagem um pouco desbotada já quase varrida, e vai ela procurando sempre sentido para a vida.

Florência de Jesus

verso triste...



rasgou-me a alma um verso triste, logo o rasguei porque tanto o amei, viajou no meu corpo descuidado, com um amor viçoso, orvalhado...mas a viagem acabou...para meu tormento, um mar de saudade ficou! nas pétalas dum malmequer, conto os dias incendiados desse amor que era tema do poema, porque tanto o amei, rasguei...é este o jeito de esquecer a dor no peito .
- nele, meu outono inteiro, tempo em que amadurei como uma tarde de verão, mas o verso desgostou meu coração...rasguei o verso triste, já não existe...morreu dentro de mim, sem pranto nem canto...simplesmente assim.

Florência de Jesus

quinta-feira, 21 de abril de 2016

atrás da saudade...



a noite cresce e as ideias correm na mente com um aroma escorregadio, e como trovão melancólico explodem no coração desmanchando-se em ternura... sinto-me uma louca com afeição a pequenas coisas à minha volta, e fico pensando e escutando no silêncio as gotas de chuva que vêm pernoitar na minha janela... fazem companhia às minhas insónias, e vêm regar os cravos de Abril...privada do sono, mas não da liberdade,  continuo atrás da saudade como um vaga-lume na noite, numa teimosia de emoções que me fascina,  me devolve a menina de tez morena, faces de âmbar  e cheiro a jasmim, que recordo com pena e hei-de sempre amar ...até ao fim... e a chuva embacia a minha janela sem hesitação e deixa mais outonal meu coração.

Florência de Jesus

para curar a solidão...



nos teus braços faço ninho, para curar a minha solidão, assim prossigo o caminho, enquanto os pensamentos, esses voarão em liberdade até  à idade que me traz saudade, e os poemas não serão esquecidos, porém uma dor nas entranhas irá crescendo como um mar turbulento, e o corpo não dominará mais o cansaço...então não darei mais um passo, farei ninho nos teus braços e adormecerei...ainda assim, sou testemunha do que vai dentro de mim, sempre um aceno à esperança, aos sonhos novos que invento, às asas de pássaro que intento, à febre com que ainda tenho vontade, ao amor que ainda agasalho, aos desejos resteazinhas de luar, às palavras que hei-de amar e escrever, claras como o sol da tarde ou nuas e descalças, pobres, que só eu sei entender...vou esticando os sonhos a ver se sou capaz, até que minhas mãos se afoguem e me deixem de vez em paz... 

Florência de Jesus

terça-feira, 19 de abril de 2016

labirinto de memórias...


quase mágico seu rosto, o olhar estendido labirinto de memórias, olhos que soletram o sol são a linguagem dum silêncio arrebatado, onde as sílabas são substituídas por música que vem do coração, jamais se é o que se foi, jamais se respiram as fragrâncias de Setembro, agora que o inverno se inicia e a vida nos fala em sua mudez, uma rajada canta no arvoredo da memória, que ainda palpita, voa e sonha....
natalianuno

domingo, 17 de abril de 2016

margem da saudade...





hoje ela é estação sem folhas, outono onde nada germina, onde há caminhos molhados e a estrela que a seguia desde menina perdeu-lhe o rasto,  os sinos da aldeia já não dão horas estão parados...há muros caiados de branco, e um fresco silêncio...no adro onde saltava à corda já não há crianças a pular, e há soluços dissolvidos no ar que só ela ouve...procurou e não soube, onde pôs os brincos de princesa que deixou na chaminé onde havia uma candeia acesa, procura... procura como se fosse uma borboleta cega, e só a boneca de trapos a alegra, olha pela janela pequena as rosas que ainda não vieram, e ouve o murmúrio do vento a desdobrar-se pelos cantos da casa, só a saudade lhe enfeita a memória de azul, e consente que suba ao muro e ganhe asas de largueza pela hortas... vai lavar os olhos no leito do rio e entrega o sorriso às estrelas, a horas mortas  descansa na margem na saudade...onde afloram os sonhos...

Florência de Jesus

sábado, 16 de abril de 2016

requiem de mágoa...


poemas despidos de palavras, onde já não chegam meus dedos, são cais de soluços onde minha alma aporta...morreram os versos nas minhas veias doridas, que importa carregar nos ombros as horas vividas? fiz poemas como quem reza as contas dum rosário, mas a fé abalou e o que restou, é um requiem de mágoa, uns farrapos de aurora... saudade que se faz beijo e vai embora...poemas despidos, canteiros de desalento, onde deserto o pensamento...

Florência de Jesus

sexta-feira, 15 de abril de 2016

gratidão...




através das cortinas vou remando até à infância, nada me barra o caminho, e fico a boiar no poente em liberdade, agradeço a Deus a dávida do sonho, que me permite encher o peito de água nova, reconcilio-me comigo mesma, e em equilíbrio fica o interior...serena, mais lúcida, vou continuando o caminho...partem as horas, fica o cansaço, inacabado o sonho, voltam os anseios como trepadeiras dando-me o abraço, e eu esqueço as canseiras, adensam-se os beijos frementes de desvario, suspiros do sol interrompem meu frio, escapo-me pelo meio da alegria e vou vivendo, sorrindo dia a dia...

Florência de Jesus

quinta-feira, 14 de abril de 2016

caem aves na minha imaginação...



a ave...chega, mas já traz com ela um adeus no olhar, parte, e pousa noutro lugar, são as pupilas da primavera, as meninas dos nossos olhos, fazem um traçado de comoção e confortam-nos o coração...olhamos à nossa volta e ficamos com um sorriso até à cintura e rodopiamos como se a nossa arte fosse também voar em liberdade, comêssemos bagas pendidas dos arbustos, e cantássemos com delicadeza com que elas chilrreiam...mergulho em meus pensamentos na estranheza da noite, despenham-se as estrelas perante meu olhos, escuto a lua que quase me toca, ardo na tristeza dos dias sombrios, sobre a manhã estende-se o orvalho junto do meu peito, em mim a solidão obscura, lá fora o cinzento do dia tímido que vem atrasado e se esqueceu do sol, rodopiam as aves na minha poesia, caem na minha imaginação e cantam, cantam com paixão...

Florência de Jesus

quarta-feira, 13 de abril de 2016

não matem os pássaros...



não matem os pássaros que vivem nos meus olhos, deixem-nos saltitar debicando as espigas dos meus sonhos, e a beber nos ribeiros solitários do meu silêncio, não matem os pássaros que vivem nos meus olhos, preciso acordar com eles, para não desfalecer como flor desprezada, quero que caiba em mim o sol claramente, quero ser flor silvestre na madrugada, não quero andar descontente, quero ser mulher amada...quero meus dias sejam malmequeres de Maio, poisem neles os pássaros que vivem nos meus olhos, e o sorriso que me resta ainda mesmo que seja chuva miúda, seja de alegria, de festa e não de esperança murcha...não matem os pássaros que vivem nos meus olhos, deixem-nos em liberdade, debruando o infinito da minha saudade...

Florência de Jesus

terça-feira, 12 de abril de 2016

foi até ao espelho e nunca mais voltou...



hoje está morta, porque hoje ela casualmente se viu ao espelho, e viu um rosto velho, podia ter ficado indiferente, mas tristemente padeceu quando viu esse rosto sombrio...pensou enlouquecer... ah...pensem o que quiserem, ficou triste sim, tão triste que as nuvens pararam para chorar com ela, e a chorar também o vento que ouviu o lamento, sentiu esmorecer-lhe o coração, e diz-lhe descuidado como quem segreda um recado...no espelho, já foste trigo por colher, agora és uma seara seca à míngua pronta para morrer...
conserva como relíquia um poema maduro mas sem futuro, espreita o tempo a um canto da vidraça e refaz-se abraçada à criança que foi, assim passa o tempo e a dor não dói ...entre a memória da primavera e o outono caído ao chão traz sonhos a escorrer do verão...e aos ombros uns salpicos de saudade, onde o inverno é já verdade.

Florência de Jesus

domingo, 10 de abril de 2016

mistérios....




coisas que eu gosto, pelo mistério que encerram...oiço em silêncio os soluços e o pranto dos que partiram e sei porque choram, invento uma manhã perto de mim, e sei que tudo está certo assim, uns partiram, outros vieram...mas a solidão essa ficou sempre aqui...acende-se a madrugada, na noite deixa a viuvez, canta o pássaro outra vez até arranhar o céu da boca, assim como quem despreza a tristeza, vagabundo dum sonho que vai esperançando o mundo...canto ao som das estrelas e depois morro, espalhando ilusões nas coisas que escrevi, rasgando versos neste meu longo caminho...

Florência de Jesus

quinta-feira, 7 de abril de 2016

no parapeito do peito...



andam os lírios vestidos de aroma, e riem-se de mim nas minhas costas, enquanto as roseiras me aproximam do sonho, na buganvília há um entrançado de zumbidos a animarem-me os ouvidos que há muito ensurdeceram, os pássaros vejo-os a passear-se de cá para lá, fazendo-me inveja de já não voar como eles, e pasmo...pois pensava não ter perdido a vida de vez... só as cotovias alegram os meus dias, essas não desistem de mim, cantam no parapeito do meu peito, e eu lírica, vou respirando fundo e rasgando mais um dia... e nesta doce paz, não me lembro se morri ou se entreguei o olhar às nuvens que passando me acolhiam no seu regaço...

Florência de Jesus

cada vez mais distante...



trago as emoções abrigadas no silêncio da noite, desfolhados os sonhos,  o amor é agora utopia onde eu própria me abrigo...fico cada vez mais distante do passado, é o tempo que me arremessa e me obriga a dar mais um passo, me arma o laço, e que anda eternamente preso a mim,  deixa-me como o sol com medo da noite...e quando cresce a esperança, logo meu pensar fica lavado,  esforça-se por alcançar de novo o sonho e criar o poema esquecido que habita em mim desesperançado, embora com as palavras por perto eu não sei o que escrever ao certo, para escrever necessito de fantasias, faço poesias rainhas, mas ainda que fantasiadas, são verdadeiramente minhas...escrevo sobre fragmentos da vida, noite fora até de madrugada, às vezes com a voz embargada, e um grito na garganta, e a poesia me ouve calada e olha meu rosto que morreu, enquanto no céu a última estrela nasceu...

natalia nuno

é o dia a dia...


 
cada um de nós vai construindo a sua teia, até a viagem acabar, vai desbravando caminho nem sempre fácil, quando os sonhos arrefecem é mais complicado, ou quando o amor que era quente, vai ficando frio, vai~se levando o barco conforme o momento...mas hoje fez-se madrugada no meu jardim, nasceram os nardos e eu estou feliz por eles e por mim...

Florência de Jesus

segunda-feira, 21 de março de 2016

pressentimento...




o rendilhado das ondas apagam com suavidade as marcas deixadas na areia, uma nuvem baixa perdida, o crepúsculo cai rápidamente, nem vivalma, apenas o vento a fustigar-lhe o rosto que o tempo impiedoso crivou de rugas à volta dos olhos e da boca, o pensamento baço, buscando sem saber porquê o que tem perante si e não crê...deixa-se passo a passo à mercê das lembranças, tantas canseiras encheram os anos de instantes que enraizaram na mente, deles cativa... sempre que a memória lhos aviva; cai nas malhas da saudade, sabendo que não há regresso, diante dela abre-se um caminho gélido e misterioso e essa ideia deixa-a confrangida, sente por intuição que é breve a vida, cada passo confirma o seu pressentimento, e é assustador o desalento...as emoções num apertado nó, a luz difusa do poente recorta-lhe o rosto e sente-se só, perdeu quase tudo de outrora, aos seus olhos surgia nesta hora nada mais que uma aparência...como que uma terra varrida pelos ventos... uma gaivota a vem saudar,  amanhã a aurora vai voltar...desta vez será mais forte que uma haste de milho e não se deixará vergar pelo pensamento.



Florência de Jesus

domingo, 20 de março de 2016

conserta as palavras...





a chuva intensa alaga a vidraça e tamborila insistentemente no telhado, vai alinhavando pormenores que não cessam na mente...fixa o olhar na fotografia em frente, e surpreendida, entristecida às vezes se revolta, privada de esperança então, o deslumbramento pela vida mistura-se com o medo de a perder...muitas e estranhas são as vicissitudes, escreve palavras afastada de si no tempo, separada pela vida inteira, vai querendo abarcar apenas o dia a dia com inegável doçura, traz consigo uma chama interior terna e abrasante quente e às vezes lancinante, mas nada a aflige nestes momentos de lassidão...depois, bem... depois conserta as palavras e seca nelas as lágrimas, diz de si para si: o coração ainda a bater, mora nele a vida...então vive Mulher.

Florência de Jesus

quinta-feira, 17 de março de 2016

palavras por dizer




abro as portas deste céu de onde colho palavras, lá onde me busco sem sair de mim, e lembro pequenas coisas que mordem as papoilas da minha saudade... assediam-me os sonhos, onde sou fragrância e tu o vento que me leva, basta-me o teu olhar para inventar felicidade...aquela que já é saudade infinda, vinda do tempo que não sei fechar... apagam-se os dias em si mesmos, um ar frio esvoaça sobre as palavras ainda por dizer, a noite estende-se interminável, fica a vida um nó desatado, um pressentimento do nada me assola, temendo não poder ser mais despertada...enquanto o sonho se alarga num doce dormir, deixo para trás as lágrimas que me choram e nunca me abandonam...deito os poemas nas margens do rio, nem tudo é doçura ou tranquilidade tanta coisa afecta a felicidade....

Florência de Jesus

quarta-feira, 16 de março de 2016

desencanto...



a sombra parte abandona a parede cinzenta, amanhã estará de volta, os ninhos ficam tristes, só a memória dela acalenta, que as asas dos sonhos hão-de voltar para novas palavras talhar...mas que beco sem saída é esta vida...volta lá atrás, emigra na aventura do sonho, olha as abelhas que dormem a sono solto, as lágrimas que o rio solta pelas hortas, as flores já mortas, os amores perfeitos que a mãe gostava tanto... é o desencanto, não suporta tanta violência , desarmada pelo tempo, sente o peso da herança, esmigalha tudo o que lhe tirou a esperança, encosta-se ao que lhe resta ainda, e fica a magicar...deixa as palavras partir, ignora a descida sem luz e na inocência...quem lhe dera ficar...regressar às papoilas, cheirar as mimosas, esperar o próximo orvalho sobre as rosas, como se tudo estivesse certo nestas palavras vazias, exaustas, pobres andorinhas tardias...

Florência de Jesus


terça-feira, 15 de março de 2016

estranhezas do dia...





ouve as marés nas areias mordidas pelo sol, e ali encalhadas ficam-lhe as ideias, procura então renovar-se dando asas ao seu vôo, sonha , palpita de saudade, agarra-se à vida com tenacidade, estende o olhar ao dia que ainda lhe pertence...há dias em que a existência lhe parece obscura, tem o desejo e a necessidade fremente de claridade, do sol primaveril, e num despertar absorver o ar puro e fresco que lhe chega do mar...e nessa luz matutina recordar a menina, ouvir o galo cantar notas duma bela sinfonia, olhar o infinito com o ouro a queimar, tudo a penetrar-lhe a consciência, deixar-se a flutuar num céu lavado e límpido por entre os salgueiros, e os cheiros das rosas selvagens... o vento traz-lhe mil recados, mil imagens que voam com leveza dentro dela,..e a maré recua, no céu em êxtase a lua.

Florência de Jesus

domingo, 13 de março de 2016

hoje sou assim!



no norte das minhas palavras abandonei a inocência, lá onde tudo era sonho onde lavrava a alegria, onde havia lufadas de sol, onde era seara e girassol, onde via regressar as papoilas vermelhas e os pássaros construíam ninhos nos beirais dos telhados...as estrelas vazaram, e trago agora os olhos molhados...fico a secar os olhos, e embaciada de emoção, sigo por entre a maresia à minha procura, porque me dói não saber quem sou nem onde estou, não me reconheço, e sempre que a mim regresso há um desajuste entre o sonho e a realidade, parto com velocidade... que mal me fiz eu... quem secou a flor em mim? de trigo eu era... hoje sou girassol que secou, assim... morreu-me o tempo, sou pássaro no escuro à procura dum pouco de primavera...sigo caminho com o afago do vento não me deixo entristecer, não quero mais palavras, que já nada têm para me dizer...

Florência de Jesus

segunda-feira, 7 de março de 2016

enorme nostalgia...



a melancolia é-lhe companhia assídua... momentos de total ausência e uma sensação de isolamento lhe percorre o sentir, rugas de cansaço, traços sombrios à volta dos olhos, no seu delírio às vezes ri até às lágrimas, e enorme nostalgia perpassa nas suas palavras que as mãos ágeis como borboletas passam ao papel, as recordações lhe arrepiam a pele e à memória em cada dia são colheita de momentos felizes, de tristezas e ansiedades, de saudades... da vida que foi um palco onde tudo se desenrolou, paixão, amor, entendimentos, desejos desmedidos, sonhos, todos os sentimentos! ...enxuga as lágrimas que lhe marejam os olhos, acolhe o silêncio que lhe penetra a alma e vive o gozo dum descanso apaziguador, já que a consequência da vida não se faz esperar e à morte ninguém consegue escapar...perante a presença do incerto, deixa o peito aberto ao que há-de vir.

Florência de Jesus

quarta-feira, 2 de março de 2016

a contravento...



o mar devolve-lhe os sonhos de criança, remenda-lhe os dias sulcados de nostalgia, a neblina inunda-lhe o olhar e o pensamento repousa no silêncio, há nele mares de esquecimento mas movem-se nele silhuetas de pessoas amadas que já partiram... inundadas de mágoas as mãos que escrevem e deslizam como um pássaro, por sobre o papel, e com um arrepio na pele sente o peso da saudade a pernoitar no seu coração... fica a inventar, a ouvir a chuva a cair e o mar revolto é cúmplice da sua tristeza, do seu resistir, do seu ficar sem chão...velejam os afectos no peito, os mesmos que lhe esmagam o rosto e lhe deixam  a contravento o pensamento...neste balançar como onda do mar, ficam-lhe  os dias a morrer de tédio e sente-se folha caída sem remédio...

Florência de Jesus

terça-feira, 1 de março de 2016

nas ribanceiras do peito...



doem-lhe os pulsos de tanto rasgar o medo que a envelhece, oxidam seus olhos que correram mundo, e nas ribanceiras do  peito há dores sem jeito...na mente memórias em labirinto, a morrer de cansada a vida a leva, e a travar-lhe a estrada o tempo que a ameaça... numa tristeza sem idade sente a saudade da perdida graça... leva o rosto carregado de nuvens mas não se deixa desfalecer, chegou à fronteira,  tanto faz um passo à frente ou outro atrás, tudo parou de correr, traz o olhar envolto em poeira e jamais se vê como era, mas ela espera...fala-lhe o coração, da voz das manhãs, dos lírios a abrir, dos  moinhos de vento, das heras a trepar, ainda não é o definitivo anoitecer, há labaredas que a fazem aquecer, e um jardim de ideias onde se procura por dentro da madrugada, até voltar a ficar cansada...

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus