domingo, 7 de outubro de 2018

gota d'água...



Será luz a nova flor que se abre? Permanece o silêncio... talvez só uma comovida flor que o orvalho resolveu golpear, num prazer desperto de levar para longe a semente, com a promessa de fazer tremer a gota de água que a fará germinar...se te amo, é porque deixas o teu perfume a cerejas silvestres! Dá-me a tua promessa, acende meu arco-íris de prazer antes que enferruje a minha esperança e as palavras me resvalem na garganta...como um tíbio raio de sol, onde a claridade já estremece.
natalianuno

domingo, 16 de setembro de 2018

miragem...



uma miragem branca passa pela mente, e esta vai macerando o esquecimento, mas nas sombras dos teus olhos, consigo ver com os meus, que o amor é mais forte e tenaz que a confusão e o caos que às vezes quer apoderar-se do pensamento e apagar o odor a madressilva, o mel quente e o prazer que ainda nos atravessa...no oásis da memória continuam os sonhos como milagre, numa claridade distinta onde permaneces e eu continuo a amar-te...não fugiram de mim recordações que são astros vermelhos de verão a morar no meu coração.


natália nuno

raminhos de alecrim...



hoje vim apanhar raminhos de alecrim, escolho caprichosamente, como se as minhas mãos fossem de delicado artista, que tanto escrevam e me façam sonhar afagando meu tempo de outono...as águas alegres do rio sorriem para mim, um freixo agita a ramagem com a aragem que vai para sul...um constante silêncio, apenas imterrompido pelo chilrear duma ave na azul lonjura...no destino da tarde trazemos lembranças nostálgicas, no coração e no no pensamento, ecos desprendidos da infância,  a nostalgia se aprofunda e recordamos os poentes dos dias inolvidáveis e inesquecíveis...mas hoje vim apanhar alecrim aos molhos, e por mim passam todos os dias da minha vida, e no meu coração há sempre uma cicatriz pronta a abrir, deixando-me numa saudade que às vezes é de lágrimas, outras de risos. mas sempre me protege do esquecimento...as minhas mãos recordam essa vida distante, de lavar no rio, de escolher os figos na eira, de segurar a cântara à cabeça, erm estes os  afazeres os livros que tanto ansiava e nunca tive... acordar o passado e deixá-lo no meio do silêncio da gente e da natureza, é acender uma chama onde existe força, emoção, e ainda caminho para prosseguir, quase alegre como se tivesse asas para perseguir as palavras que vou plantando neste doce cansaço que me reconcilia com o tempo e com a vida...hoje aproveito a dávida deste aroma do campo para matar a sede dos meus sonhos. E sempre faço a mesma pergunta: quem és? porque continuas aí? E a menina do baloiço me sorri, já começa a esfumar-se o seu rosto, apenas alcanço a sua ténue voz...já é apenas um sonho!
 natalia nuno

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

medo...



o peito é um mar sombrio, quando a noite surge enferma sem estrelas...as ondas em movimento brusco, vão em grande tumulto desbravando os meus sonhos de náufraga... a cada dia mais inalcansáveis até me deixarem obscuramente no esquecimento...é este o medo que sobe os muros por detrás de cada sombra...
natalia nuno

carência...




a carência de ti não me abandona, invento tempo de felicidade... meus olhos abertos pelo fogo da ternura voltam a embebedar-se de alegria num beber lento e doce, e a memória volta àquele momento distante quando comecei a desejar-te...

natalia nuno

segunda-feira, 2 de julho de 2018

ainda é meu tempo de viver...



parti, por não ter chão onde semear sonhos, cerro as palavras na boca, deixo-as na terra adormecida do meu âmago, talvez que as sementes germinem mais tarde em horas de saudade e docilmente se entreguem em versos chorosos que embaciem os olhos, ou  suspendam a tristeza  e o vazio do tempo e venham dourar o verde onde a minha esperança cresce... estranhamente é verão, mas, o dia é de penumbra a memória apaga-se lentamente e eu fico de morte ferida, mas ainda vivo, ainda é meu tempo de viver...exausta parti de mãos vazias, levo os desencantos, vou palmilhando o chão e levo por companhia a solidão, voltarei quando fôr lua cheia, se ainda fôr capaz de aprender a primavera, e as folhas em mim caídas voltem a reverdecer em meus sonhos, eu possa moldar de novo as palavras a meu jeito, e nada impeça que me tragam a promessa de ser gaivota na planície...com olhos de madrugada.

natalianuno
Foz do Arelho
2/7/2018

domingo, 13 de maio de 2018

a usura do tempo...



as palavras são inúteis para trazer de volta o tempo, aquele, em que o tempo não existia, nem sequer tempo para pensar no tempo, tudo era juventude e alegria, mas o tempo passou, contrariando o meu desejo, colocando minha alma no anseio duma nascente primavera que não regressa mais e, não vale a espera...permanece a febre no coração ofegante e eu repito num murmúrio incessante a doçura dum verso, que apesar do tempo ser agora tempo de inverno, não impede que o meu rosto sorria, e as palavras me levem até que me esqueça quem sou, ou até se apagar o derradeiro sentido da palavra...seguirei como se me tivesse enganado na direcção,  esquecendo o tempo, por mais algum tempo, tocando as nuvens dos versos... até que os dias fiquem frios e curtos mas, o sonho habite ainda no poema em que vivo.

natalianuno

terça-feira, 17 de abril de 2018

capricho...



Ontem não vimos o sol, choveu sem violência, e ficámos a olhar o rio, esse rio que já é oceano, surgiram mais umas rugas nas têmporas, enquanto as nuvens se afogavam na luz morna da tarde. A noite é agora carvão o horizonte já abraça o crepúsculo, e eu recordo o dia de ontem, pois a amizade me arrancou um sorriso.
Amanhã uma luz macia trará um novo dia, e eu serei o que sou por quanto tempo DEUS quiser, me enviará um sopro doce do vento para me adoçar o peito, que pende um pouco para a tristeza.

A vida vai-se prolongando
e botões de lírio (sonhos) vão despontando.

natalia nuno

domingo, 8 de abril de 2018

rasgando a névoa...



no poleiro da memória papoilas vermelhas a atear a chama antiga, neste outono onde os desejos e os sonhos ainda não empalideceram, e são razão bastante para me arrancarem da solidão... não há rio de tristeza que me afogue, nem loureiro que não me abrace, e eu respiro na margem como se ainda fosse fim de verão, mas já o outono me açoita e o inverno me cerca. uma ameaça fere e suga-me o ânimo...o tempo! quero adormecer sobre minhas lembranças, perder-me nos passos até ao fim da rua onde teu amor me chama, e entregar-me como lírio silvestre se entrega ao sol, num último gesto, logo que a manhã se afoga ou o entardecer se rasga...crio assim em minha mente um espaço de beleza e amor, entre o silêncio e o vazio e, o coração se aquieta...

natália nuno

terça-feira, 13 de março de 2018

tempo de acomodar a saudade...





já foi flor, mas as pétalas foram caindo e as raízes ficaram sonâmbulas na volúpia dos outonos, nas sombras da melancolia...hoje, é recordação e no crepúsculo do peito quando o sol já declina, ainda se permite um brilhozinho no olhar, que aquece o coração e impede que a tristeza assome ... vai prolongando o sonho, esquece os ponteiros que deixaram de existir e que à força lhe tiraram horas de amar, horas infindas e saudosas que a memória ressuscita...e ela, questiona-se sobre quem lhe abrandou o ritmo do coração, quem lhe roubou o acalanto dos devaneios, agora que o cabelo lhe prateia as fontes e a longa existência lhe extravia os pensamentos quando num tímido vôo  sonha voar ao passado,.. o tempo sulcou-lhe o rosto, tal como o arado sulca a terra, humilde flor, perdida na emoção do caminho, mas na alma leva a inocência de criança, uma ternura cega e o amor inteiro... a felicidade foi veloz como a cascata dum rio, agora num doce cansaço, tenta a cada dia reconciliar-se com a vida amainando a inquietação do seu outono...já nada lhe poderá devolver o corpo que incendiou o amor, nem o espelho voltará a mostrar o rosto onde tudo era regato de água límpida, era assim, hoje volta a cabeça apenas para dizer adeus...

natalia nuno

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

era de festa e de amoras...



ri, inventa e chora e o seu olhar a observa por fora, o outono trouxe-lhe castelos por abrir e mais um dia que há-de vir, e um tempo que faz medo, sonhos parados segredo, insónia debruçada na almofada e quase acredita que ainda é amada...é quase flor de inverno, nem feliz, nem infeliz, a sua voz é nevoeiro mas carrega com ela o cheiro da madressilva, da giesta...era de festa e de amoras, há muito tempo há tantas horas, os seus saltos de esperança, a criança que passa a vida a enfeitar, a fazer a trança, a colocar-lhe o laço, e num abraço um adeus que faz doer e uma lágrima a correr...tanta estrada...e ela ainda se julga amada!
natalia nuno

sábado, 24 de fevereiro de 2018

janela aberta ao sol...



às vezes sentimos uma alegria incomunicável, imaginamo-nos numa estrada infinita, rodeada de pequenas coisas que ao olhar nos fazem  felizes... é quase como sonhar e não querer acordar, de repente as palavras tornam-se leves, e uma chuva de finos pensamentos me afastam do
destino que é morrer...então os dias tornam-se vagarosos, e desaparece aquele cansaço habitual tão desmoralizador, diminui a ansiedade, surpreendida sou como uma janela aberta ao sol, sinto-me mais viva, esqueço a angústia vinda do fundo dos tempos e a vida muda de feição... momentos perfeitos estes, onde até o mundo me parece melodioso cheio de movimento, paz e alegria... posso até ouvir o respirar da terra, gosto destas horas caladas, só eu e essa alegria incomunicável, aproveito para relembrar os tempos de menina e a minha terrível imaginação, quando me debruçava no peitoril da janela pequenina, a ouvir p'las manhãs o coaxar das rãs...

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

a alma suspensa...





o tempo passa e já pouco me move, com ele os dias vão e já não é vasta a alegria de viver como outrora, e a vontade de quando em quando anda escondida num esconderijo do meu cérebro, mas há sempre um relógio no meu interior que mansamente me desperta e me vai levando mais um pouco avante e aí me sinto como uma criança silenciosa que só agora acordou e vai acolhendo a vida conforme ela se lhe depara... e lá vou enchendo de palavras o ar que respiro. e ao mesmo tempo recordando a infância, relembrando o anoitecer morno das tardes de fim de verão no lugar onde nasci, as gentes que amei, as flores baloiçando ao vento e o perfume macio vindo dos laranjais, lá fico a sonhar, volto a noivar, sou menina do campo trago a luz da primavera nos olhos, a voz fresca como uma manhã orvalhada, nos cabelos o odor a hortelã e a alma suspensa como se fosse renascer de novo...e, milagrosamente saio do labirinto, acolho a vida sem nevoeiro, ao contrário, prometendo-me sol nos canteiros do meu coração...perco-me no infinito da memória, fecho os olhos e do sonho não pretendo mais acordar e nem o aroma das letras me trará de volta.

natalianuno

domingo, 21 de janeiro de 2018

agora que o sol se pôs....



o tempo sequestra suas asas e algema o sorriso, os sonhos fazem-se nela silêncio, e a saudade faz-se grito...despe-se de Maio, veste-se de Outono, e os olhos secam...aos ombros carrega a tristeza. e no cartaz fala de esperança que ainda lhe resta, feita de retalhos...alimenta no peito gaivotas, lembranças que vão e voltam trazendo saudade de si, assim, nesta amarga condição vê chegar o frio à vida e o vazio à mente... o corpo de garça abriu e fechou em flor, traz recordações presas às raízes da memória em conflito com o presente  e a idade sabe de cor embora de Janeiro faz por esquecer o ano inteiro, da sua boca rebentam palavras de cor outonal, navega em dois rios, num deixa-se levar pela trama do tempo, e no outro pega nos remos e rema contra a maré com fé, enquanto o coração estremece e, ainda que nada regresse, volta sempre ao lugar do sonho sem ousar despertar... cansada da viagem,  perdida desse resto de si, olha a imagem e como louca ri...

natália nuno

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

de pálpebras cerradas...



não deixo de encher o meu coração de amor, que o meu dia e a minha noite seja um diadema de estrelas, que o amor seja o centro da minha atenção vibrando sempre com a veemência do canto dos pássaros....sons límpidos, ágeis e felizes ecoam, fundem-se com o vermelho da tarde e eu escuto-os na minha memória até sentir o impulso do sangue que corre em mim e, assim me deixo levar pelo sonho e por esta força que me atrai, numa abandonada liberdade até uma nua claridade....revivendo através do meu olhar interior, o mágico e o real do que foi a vida...nada como viver assim...dia a dia...na esperança de que o próximo seja sempre melhor... debruço-me numa lágrima de chuva grossa, reflectindo, e o tempo deixa de fazer mossa, sou como um pequeno riacho ao amanhecer, e meus lábios deixam correr as palavras prazeirosamente à espera duma nova esperança... e quando a melancolia começa a doer, e a colocar um nó na garganta olho aquele pássaro que me canta aos ouvidos e me leva às eternas estrelas...

natalia nuno