domingo, 24 de abril de 2016

sonhos de água...



cai a noite  no duro silêncio, e ela como uma flor que secou... esforça-se por chegar à Primavera, lá onde a noite se esconde e o dia aclara,  estrelas vêm agora descendo, trazendo-lhe a luz prateada que a faz viajar até outras idades, quando as papoilas eram mais vermelhas  os pássaros  pousavam-lhe no ombro e o rio chamava por ela...inventava milagres, agora, traz com ela saudades, seu pensamento é cais onde os suspiros aportam, no ventre da sua aldeia deixou o coração no silêncio dos peixes do rio, e suspiros são estrelas cadentes até hoje a pairar no céu azul da terra que não esquece, como se asas tivessem seus pensamentos voejam por entre os laranjais de flor branca e odorosa, adormece sempre às portas da manhã colhendo figos pingo-mel, e a ouvir os galos quando a madrugada já se avizinha... sonhos de água são miragem, ao longe a imagem um pouco desbotada já quase varrida, e vai ela procurando sempre sentido para a vida.

Florência de Jesus

verso triste...



rasgou-me a alma um verso triste, logo o rasguei porque tanto o amei, viajou no meu corpo descuidado, com um amor viçoso, orvalhado...mas a viagem acabou...para meu tormento, um mar de saudade ficou! nas pétalas dum malmequer, conto os dias incendiados desse amor que era tema do poema, porque tanto o amei, rasguei...é este o jeito de esquecer a dor no peito .
- nele, meu outono inteiro, tempo em que amadurei como uma tarde de verão, mas o verso desgostou meu coração...rasguei o verso triste, já não existe...morreu dentro de mim, sem pranto nem canto...simplesmente assim.

Florência de Jesus

quinta-feira, 21 de abril de 2016

atrás da saudade...



a noite cresce e as ideias correm na mente com um aroma escorregadio, e como trovão melancólico explodem no coração desmanchando-se em ternura... sinto-me uma louca com afeição a pequenas coisas à minha volta, e fico pensando e escutando no silêncio as gotas de chuva que vêm pernoitar na minha janela... fazem companhia às minhas insónias, e vêm regar os cravos de Abril...privada do sono, mas não da liberdade,  continuo atrás da saudade como um vaga-lume na noite, numa teimosia de emoções que me fascina,  me devolve a menina de tez morena, faces de âmbar  e cheiro a jasmim, que recordo com pena e hei-de sempre amar ...até ao fim... e a chuva embacia a minha janela sem hesitação e deixa mais outonal meu coração.

Florência de Jesus

para curar a solidão...



nos teus braços faço ninho, para curar a minha solidão, assim prossigo o caminho, enquanto os pensamentos, esses voarão em liberdade até  à idade que me traz saudade, e os poemas não serão esquecidos, porém uma dor nas entranhas irá crescendo como um mar turbulento, e o corpo não dominará mais o cansaço...então não darei mais um passo, farei ninho nos teus braços e adormecerei...ainda assim, sou testemunha do que vai dentro de mim, sempre um aceno à esperança, aos sonhos novos que invento, às asas de pássaro que intento, à febre com que ainda tenho vontade, ao amor que ainda agasalho, aos desejos resteazinhas de luar, às palavras que hei-de amar e escrever, claras como o sol da tarde ou nuas e descalças, pobres, que só eu sei entender...vou esticando os sonhos a ver se sou capaz, até que minhas mãos se afoguem e me deixem de vez em paz... 

Florência de Jesus

terça-feira, 19 de abril de 2016

labirinto de memórias...


quase mágico seu rosto, o olhar estendido labirinto de memórias, olhos que soletram o sol são a linguagem dum silêncio arrebatado, onde as sílabas são substituídas por música que vem do coração, jamais se é o que se foi, jamais se respiram as fragrâncias de Setembro, agora que o inverno se inicia e a vida nos fala em sua mudez, uma rajada canta no arvoredo da memória, que ainda palpita, voa e sonha....
natalianuno

domingo, 17 de abril de 2016

margem da saudade...





hoje ela é estação sem folhas, outono onde nada germina, onde há caminhos molhados e a estrela que a seguia desde menina perdeu-lhe o rasto,  os sinos da aldeia já não dão horas estão parados...há muros caiados de branco, e um fresco silêncio...no adro onde saltava à corda já não há crianças a pular, e há soluços dissolvidos no ar que só ela ouve...procurou e não soube, onde pôs os brincos de princesa que deixou na chaminé onde havia uma candeia acesa, procura... procura como se fosse uma borboleta cega, e só a boneca de trapos a alegra, olha pela janela pequena as rosas que ainda não vieram, e ouve o murmúrio do vento a desdobrar-se pelos cantos da casa, só a saudade lhe enfeita a memória de azul, e consente que suba ao muro e ganhe asas de largueza pela hortas... vai lavar os olhos no leito do rio e entrega o sorriso às estrelas, a horas mortas  descansa na margem na saudade...onde afloram os sonhos...

Florência de Jesus

sábado, 16 de abril de 2016

requiem de mágoa...


poemas despidos de palavras, onde já não chegam meus dedos, são cais de soluços onde minha alma aporta...morreram os versos nas minhas veias doridas, que importa carregar nos ombros as horas vividas? fiz poemas como quem reza as contas dum rosário, mas a fé abalou e o que restou, é um requiem de mágoa, uns farrapos de aurora... saudade que se faz beijo e vai embora...poemas despidos, canteiros de desalento, onde deserto o pensamento...

Florência de Jesus

sexta-feira, 15 de abril de 2016

gratidão...




através das cortinas vou remando até à infância, nada me barra o caminho, e fico a boiar no poente em liberdade, agradeço a Deus a dávida do sonho, que me permite encher o peito de água nova, reconcilio-me comigo mesma, e em equilíbrio fica o interior...serena, mais lúcida, vou continuando o caminho...partem as horas, fica o cansaço, inacabado o sonho, voltam os anseios como trepadeiras dando-me o abraço, e eu esqueço as canseiras, adensam-se os beijos frementes de desvario, suspiros do sol interrompem meu frio, escapo-me pelo meio da alegria e vou vivendo, sorrindo dia a dia...

Florência de Jesus

quinta-feira, 14 de abril de 2016

caem aves na minha imaginação...



a ave...chega, mas já traz com ela um adeus no olhar, parte, e pousa noutro lugar, são as pupilas da primavera, as meninas dos nossos olhos, fazem um traçado de comoção e confortam-nos o coração...olhamos à nossa volta e ficamos com um sorriso até à cintura e rodopiamos como se a nossa arte fosse também voar em liberdade, comêssemos bagas pendidas dos arbustos, e cantássemos com delicadeza com que elas chilrreiam...mergulho em meus pensamentos na estranheza da noite, despenham-se as estrelas perante meu olhos, escuto a lua que quase me toca, ardo na tristeza dos dias sombrios, sobre a manhã estende-se o orvalho junto do meu peito, em mim a solidão obscura, lá fora o cinzento do dia tímido que vem atrasado e se esqueceu do sol, rodopiam as aves na minha poesia, caem na minha imaginação e cantam, cantam com paixão...

Florência de Jesus

quarta-feira, 13 de abril de 2016

não matem os pássaros...



não matem os pássaros que vivem nos meus olhos, deixem-nos saltitar debicando as espigas dos meus sonhos, e a beber nos ribeiros solitários do meu silêncio, não matem os pássaros que vivem nos meus olhos, preciso acordar com eles, para não desfalecer como flor desprezada, quero que caiba em mim o sol claramente, quero ser flor silvestre na madrugada, não quero andar descontente, quero ser mulher amada...quero meus dias sejam malmequeres de Maio, poisem neles os pássaros que vivem nos meus olhos, e o sorriso que me resta ainda mesmo que seja chuva miúda, seja de alegria, de festa e não de esperança murcha...não matem os pássaros que vivem nos meus olhos, deixem-nos em liberdade, debruando o infinito da minha saudade...

Florência de Jesus

terça-feira, 12 de abril de 2016

foi até ao espelho e nunca mais voltou...



hoje está morta, porque hoje ela casualmente se viu ao espelho, e viu um rosto velho, podia ter ficado indiferente, mas tristemente padeceu quando viu esse rosto sombrio...pensou enlouquecer... ah...pensem o que quiserem, ficou triste sim, tão triste que as nuvens pararam para chorar com ela, e a chorar também o vento que ouviu o lamento, sentiu esmorecer-lhe o coração, e diz-lhe descuidado como quem segreda um recado...no espelho, já foste trigo por colher, agora és uma seara seca à míngua pronta para morrer...
conserva como relíquia um poema maduro mas sem futuro, espreita o tempo a um canto da vidraça e refaz-se abraçada à criança que foi, assim passa o tempo e a dor não dói ...entre a memória da primavera e o outono caído ao chão traz sonhos a escorrer do verão...e aos ombros uns salpicos de saudade, onde o inverno é já verdade.

Florência de Jesus

domingo, 10 de abril de 2016

mistérios....




coisas que eu gosto, pelo mistério que encerram...oiço em silêncio os soluços e o pranto dos que partiram e sei porque choram, invento uma manhã perto de mim, e sei que tudo está certo assim, uns partiram, outros vieram...mas a solidão essa ficou sempre aqui...acende-se a madrugada, na noite deixa a viuvez, canta o pássaro outra vez até arranhar o céu da boca, assim como quem despreza a tristeza, vagabundo dum sonho que vai esperançando o mundo...canto ao som das estrelas e depois morro, espalhando ilusões nas coisas que escrevi, rasgando versos neste meu longo caminho...

Florência de Jesus

quinta-feira, 7 de abril de 2016

no parapeito do peito...



andam os lírios vestidos de aroma, e riem-se de mim nas minhas costas, enquanto as roseiras me aproximam do sonho, na buganvília há um entrançado de zumbidos a animarem-me os ouvidos que há muito ensurdeceram, os pássaros vejo-os a passear-se de cá para lá, fazendo-me inveja de já não voar como eles, e pasmo...pois pensava não ter perdido a vida de vez... só as cotovias alegram os meus dias, essas não desistem de mim, cantam no parapeito do meu peito, e eu lírica, vou respirando fundo e rasgando mais um dia... e nesta doce paz, não me lembro se morri ou se entreguei o olhar às nuvens que passando me acolhiam no seu regaço...

Florência de Jesus

cada vez mais distante...



trago as emoções abrigadas no silêncio da noite, desfolhados os sonhos,  o amor é agora utopia onde eu própria me abrigo...fico cada vez mais distante do passado, é o tempo que me arremessa e me obriga a dar mais um passo, me arma o laço, e que anda eternamente preso a mim,  deixa-me como o sol com medo da noite...e quando cresce a esperança, logo meu pensar fica lavado,  esforça-se por alcançar de novo o sonho e criar o poema esquecido que habita em mim desesperançado, embora com as palavras por perto eu não sei o que escrever ao certo, para escrever necessito de fantasias, faço poesias rainhas, mas ainda que fantasiadas, são verdadeiramente minhas...escrevo sobre fragmentos da vida, noite fora até de madrugada, às vezes com a voz embargada, e um grito na garganta, e a poesia me ouve calada e olha meu rosto que morreu, enquanto no céu a última estrela nasceu...

natalia nuno

é o dia a dia...


 
cada um de nós vai construindo a sua teia, até a viagem acabar, vai desbravando caminho nem sempre fácil, quando os sonhos arrefecem é mais complicado, ou quando o amor que era quente, vai ficando frio, vai~se levando o barco conforme o momento...mas hoje fez-se madrugada no meu jardim, nasceram os nardos e eu estou feliz por eles e por mim...

Florência de Jesus