segunda-feira, 20 de março de 2017

costumeira saudade...




um fogo breve é já a vida, é folha que cai ao chão e conhece sua velhice, é o obscurecer da beleza que não volta, é lágrima de resignação.é escutar o doentio lamento da alma...no fragor da festa tudo era surpresa a arder na carne, a iluminar o rosto, ternos sonhos, nada comparável ao tempo dos amores cujos ruídos agora se apertam no peito como cristal cortante que acaba de se partir perante os nossos olhos embora na penumbra...mãos dóceis eram outras que vão perdendo o tacto, e há um riso triste ocupando o quarto de janelas fechadas, onde só o espelho vai golpeando o futuro... murcham as flores na jarra imaginária, queimando o olhar longínquo, e irrompem as carências dum amor nunca descoberto, caem aguaceiros, oscilam os sonhos, e a chuva nos olhos bate sem piedade... rasgão do tempo de Outono que caprichosamente lhe assoma com a saudade...

natalia nuno

segunda-feira, 6 de março de 2017

loucura...



baloiço entre os sonhos e a vida num abraço de peculiar ternura e tudo são fascinações, lembranças de instantes perdidos, já distantes... na minha cabeça os ventos do outono, tão só a nostalgia me ouve, procuro romper as húmidas paredes que cercam meu olhar, retirar a presença fria que me cerca, trocar os dias monótonos por momentos felizes, e ter de novo essa força decidida que cria doçura e é amor...enruga-se o rosto, os olhos que eram estrelas ficam pássaros ocultos em quietude, enquanto vou repetindo palavras de pranto, de desejo candente, de frescura longínqua, simultaneamente sentimentos que me restam e a necessidade sonhar... o sonho sempre abarca felicidade, e traz-nos uma lágrima que nos afoga de saudade, incendeia desmemórias, e é como se o sossegado amor estivesse sempre à nossa espera...com as palavras faço colheitas de sonhos e neles sou uma violeta azul solitária flor, uma safira no rio, ou uma inquieta gazela...sou tudo o que eu quiser... enquanto na minha mão um melro cantar  sem idade e sem tempo...

natalía nuno

sábado, 4 de março de 2017

lago de palavras...



as palavras puxam pela memória, às vezes como instrumento de tortura  ficam dançando no cérebro, rodopiando com loucura e, numa irreflectida emoção incitam-me à decisão de escrever sentindo nisso  prazer e como de costume, a saudade arma-me o laço ... fico a baloiçar, saudade é sentimento  muita vez doloroso e a emoção perturba e destrói o coração... escrevo então um lago de palavras onde coloco o mais bonito cisne branco sob a luz das estrelas...criado do nada, surgindo do oásis da minha mente... e o que até então parecia inalcansável,  pela exigência da saudade torna-se possível, surge o poema com uma estranha sedução e a sede dum rouxinol ardendo na memória...coloco a inquietude na frescura dos verbos e a dor vivifica nas metáforas,  faço juramento que não lavrarei mais versos, nem sequer pequenos fragmentos, deixarei meus pensamentos no silêncio, na dor que passa, onde me exilarei sem retorno como lenda ao abandono...como o recolher duma flor...numa tarde de outono...

natalia nuno