terça-feira, 13 de março de 2018

tempo de acomodar a saudade...





já foi flor, mas as pétalas foram caindo e as raízes ficaram sonâmbulas na volúpia dos outonos, nas sombras da melancolia...hoje, é recordação e no crepúsculo do peito quando o sol já declina, ainda se permite um brilhozinho no olhar, que aquece o coração e impede que a tristeza assome ... vai prolongando o sonho, esquece os ponteiros que deixaram de existir e que à força lhe tiraram horas de amar, horas infindas e saudosas que a memória ressuscita...e ela, questiona-se sobre quem lhe abrandou o ritmo do coração, quem lhe roubou o acalanto dos devaneios, agora que o cabelo lhe prateia as fontes e a longa existência lhe extravia os pensamentos quando num tímido vôo  sonha voar ao passado,.. o tempo sulcou-lhe o rosto, tal como o arado sulca a terra, humilde flor, perdida na emoção do caminho, mas na alma leva a inocência de criança, uma ternura cega e o amor inteiro... a felicidade foi veloz como a cascata dum rio, agora num doce cansaço, tenta a cada dia reconciliar-se com a vida amainando a inquietação do seu outono...já nada lhe poderá devolver o corpo que incendiou o amor, nem o espelho voltará a mostrar o rosto onde tudo era regato de água límpida, era assim, hoje volta a cabeça apenas para dizer adeus...

natalia nuno