terça-feira, 21 de junho de 2016

sonho que se esfuma...

uma fria labareda ía morrendo e ela de janela aberta de par em par, olhava o espelho e encontrava a resposta que tanto queria ignorar, o rosto persistia mas sem vida... ferida, cresciam-lhe no olhar lágrimas esparramando-se num longo pranto...o tempo sentenciando sem dar trégua, deixava-lhe mais uma ruga taciturna e revelava-lhe um rosto que não conhecia. alucinada, seu coração ficava uma pedra branda que chorava por dentro, a sua face ali retida era como um enigma, uma sombra, e nunca a sua inteiramente...recordou-se jovem, com pena nada mais quis ver nem saber, espreitou o mundo, desdobrou um sorriso triste e estava ali, pronta a quebrar o vidro cego, era ela afinal... como um sonho que se esfuma, na mesma janela com cortina urdindo sonhos, os mesmos que trazia lá detrás de quando era menina...

natalia nuno
homenagem a Florência de Jesus

segunda-feira, 20 de junho de 2016

bagagem...



carrego minha bagagem com um sentimento de esperança, sinto a avidez do tempo a fragilizar-me a memória,  os dias parecem nascer sem horizontes... e um punhado de frio percorre-me o corpo que preso à indiferença já nada sente...os anos caem sombrios e a fiel solidão parece ser definitiva, no entanto sempre surge aquele velho desejo de recomeçar, esqueço o frio e a solidão, porque há sempre a tal esperança no amanhã... é um desassossego este peito frio pra quem ama a vida!
- visto o meu traje de menina e emerjo com firmeza, continuo, deixo a incerteza, nego a solidão, vou sonhando de novo entre os pinheiros do outono e o sonho dá-me a mão como se sempre me esperasse...  

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus

sábado, 18 de junho de 2016

fragmentos da viagem...



fico à espera que o vento me encha as velas de coragem, que retire as nuvens da tempestade, me deixe a mente tranquila e o coração corajoso, e no meu âmago uma fonte de doçura para poder navegar no meu quotidiano em paz...neste rio infinito que um dia me canta uma canção melodiosa e noutro me deixa a alma inquieta,rendida e numa situação dolorosa...fico a flutuar à tona, e quase parece que a vida me abandona... marés infinitas e eu presa nas ondas deste tempo morto, onde só o vento rumoreja e um pássaro canta uma estranha canção. triste e melancólica na minha mente atulhada de pensamentos...embrenhada, esqueço a sordidez do mundo e, amanhã voltarei a renascer das cinzas...

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus

sexta-feira, 17 de junho de 2016

a minha sombra...



as manhãs sabem sempre a fruta e a vida vai fluindo, o dia me acolhe logo que o sol paralisa em frente à minha janela, enquanto isso, vou queimando todos os meus tempos a procurar a força que ainda me é precisa....para ser feliz recordo, dirijo o pensamento para novas distâncias para lá do horizonte,  sonho como se fosse audaz primavera o tempo q' inda me resta...
levo os passos encaminhados e palavras que me bastam mesmo à medida do meu caminho, levo também tudo o que sonhei, e engendro sonhos futuros lá pelos riachos da tarde... não levo pressa, mas, o meu olhar voa com a audácia dum relâmpago antes que o tempo o feche de vez e tenha de chorar a vida...a noite não tarda envolta num silêncio macio, as quimeras fogem-me envergonhadas  a vida fica submersa na solidão...e o tempo range detido nos meus olhos...

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus

sexta-feira, 3 de junho de 2016

no outro dos meus lados...



fui vencendo o caminho com errante ligeireza, presenciei horizontes calmos  horizontes irados e hoje, entreabrindo meus olhos molhados por horas de incerteza, os sentidos retornam explodindo, ainda há flores de júbilo no meu coração que obstinadamente se recusam a morrer, brindam à vida e bebem comigo da mesma taça do viver... este momento de loucura que por mim passa... como que amanhecida, meus pensamentos iniciam uma nova dança, sinto-os a balancear como a querer libertar-se, surgem de longe e elevam-se tão perto que volto a ser criança,  num silêncio macio escuto as águas do rio, e eu sou apenas esse instante...criança em liberdade, não sei quantos anos tive, sei que meu coração ainda vive...da saudade.

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus

quinta-feira, 2 de junho de 2016

meu último sonho...



com o passar de folha, apagou-se metade do meu sonho, já a memória se esquece da antiga disciplina, comovidas as flores na jarra, afirmam que estou delirando... e deixam um aroma fresco ao alvor, em minha almofada... a memória é pois um cântaro cheio de saudade, resgato o sonho, e lá volta a brisa com a claridade da infância...nessa hora sonho com o tanger do sino, cujo som mágico consigo ainda recordar, e o rio, éden da minha infância, águas cristalinas espelham o céu e nas margens crescem flores como meninas joviais...meu sonho continua à sorte, e vai jogando o jogo da vida e da morte...o tempo cega-me, mas as estrelas avivam-me os sentidos e a lua escuta o meu coração, solidária dá-me a mão e o sonho continua...

natalia nuno
homenagem a

Florência de Jesus