sábado, 12 de novembro de 2016

criatura do amor...



a cada momento, meu pensamento caminha à procura de mim, quem fui, quem continuo a ser neste meu amadurecido viver rumo a um horizonte de doçura, rumo à felicidade, ao sonho ou à pura ilusão... à saudade! -  dou conta que o silêncio se faz fundo na minha alma, e na noite escura medito, enquanto as horas se extinguem e apenas sei que nada sei, que não me reconheço, que sou alguém que muito bem poderia ter sido diferente, mas não posso fugir, aqui fico presa aos espelhos...então, como um rio doce que corre ao mar fico a murmurar, fecho os olhos que nem sequer sabem porque choram para meditar,  alerta ficam os ouvidos para ouvir o eco de mim perdida, ponho-me de costas para a negação e apenas sigo o pulsar do coração, inverto o caminhar e me encontro na minha pequenez, onde as rosas se abrem numa fascinação que me entontece, e eu espero que tudo recomece , o sonho e a ilusão, já ouço o rumor dos teus passos, vejo-te ao longe estendendo-me de novo os braços, neles me ergo viva...criatura do amor!

natalia nuno
homenagem a
Florência de Jesus

desabafo...



Aqui já pouco ou nada acontece, mas crescem-me os pensamentos e corre-me o sangue nas veias, e o meu corpo vive e morre no tormento das sombras, porém, retenho um pouco de felicidade enquanto a vida chama por mim ainda, deixo-me criança perdida chilreando como pássaro solto e deixo que o vento ecoe o meu nome num comprido corredor, numa sucessão de dias, mesmo que a morte espreite...meu lugar é entre os vivos e eu quero a quietude no olhar e o fogo de quem consegue ainda ser feliz... feliz com o tacto das flores, com o riso das águas, com o vôo dos pássaros, e retirar prazer das lembranças, ainda que para mais nada seja que sobreviver à solidão...

natalia nuno

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

no calor da chama



Atravessei ignotos lugares da terra, perdi-me na surpresa , fui andorinha, neste mundo de ventos e beleza...no silêncio das montanhas, nos rumores das cidades, na voz dos mares, no pranto dos glaciares, nas flores cercando-me, nos rios que correram milénios o mesmo caminho, e eu esvoacei fresca na brisa do sonho, numa esperança quase impossível, pois já sou prisioneira do tempo...ele que é inimigo de todo o ser vivente... na caminhada, os meus olhos deixam a penumbra do vazio, enchem-se de luz cintilante como o mar de verão, e nos meus lábios há mel arrancado à dulcíssima beleza que encontro mundo fora, na embriaguez da minha sede de continuar a caminhar, como se nunca fosse terminar o calor desta chama...o meu peito fica verde como frondosa ramagem, e as sombras que me inquietam deixam de me torturar, retiro da vida o espelho que me olha e me acusa e lhe grito: «tu és o meu pior inimigo...» e num misto de tristeza e alegria, surge-me um jardim de memórias que me trazem de volta a vida que encontrei e a que podia ter tido.

natalia nuno

terça-feira, 1 de novembro de 2016

também as rosas fenecem...





Também as rosas fenecem na sombra dum instante, num aprisionado grito... também eu sinto o vazio que se afirma como um negro rasgão e, já só sou o que não sou, continuo insistindo, agarrada à vida, apesar da máscara que os anos gravaram e me cortaram o vôo, só o vento me ouve quando o sonho anda baldio...pálidas são as defesas do que resta, ficaram os risos feridos e as forças humilhadas, meus dedos se instalam nos recantos do poema e meu olhar cai sobre o horizonte em plena abulia...
natalia nuno